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Nunca mais o despotismo
As origens do sistema de violência oficial remontam aos séculos de extermínio de indígenas e de escravização de africanos e afrodescendentes. A heróica e sangrenta resistência desses povos encontra-se nos anais da nossa história. Na Bahia, temos Malês, Alfaiates, Sabinada, Canudos, esse o mais conhecido confronto nacional entre forças populares e a tirania do Estado. Os baianos não fogem à luta. E a vitória da democracia, em todos os tempos, é fruto de sacrifício extremo: da própria vida. Patriotismo em seu estado pleno.
Com o golpe de 1964, mecanismos legais e processuais, alicerçados na Constituição, são abolidos. O cerceamento à liberdade de expressão, de associação e de imprensa funda um período de exceção. Estudantes da educação básica e superior que reagiram às arbitrariedades do regime instituído são proibidos de estudar e os seus professores, de ensinar. Entidades estudantis são duramente atingidas. As artes são violadas. Música, teatro, cinema ficam submetidos à censura. As universidades sofrem com os expurgos de intelectuais e professores de reconhecimento internacional. A perseguição provoca um movimento de evasão de cérebros com repercussão histórica nacional.
Cientes dos seus deveres enquanto instituições educacional e cultural, as secretarias da Educação e de Cultura do Estado da Bahia trazem para o presente a nossa história recente, pouco conhecida por grande parte da juventude. Partindo dessa reflexão, é lançado nesta quarta-feira (02/03), às 19 h, na abertura do ciclo de debates – Ditadura Militar - Direito à Memória -, na Biblioteca Pública dos Barris, o livro Mortos e Desaparecidos Baianos, sobre as histórias de 30 filhos do solo baiano, que nos deram o exemplo maior de entregar suas próprias vidas para que o País voltasse ao Estado Democrático de Direito.
Com efeito educativo e formador em novas gerações, a publicação cumpre o papel de resgate histórico e preservação da memória brasileira. Memória de uma geração inscrita no rol dos vencedores. As histórias expõem feridas do passado e impõem-se com veemência para que não reste dúvida sobre os fatos que lhes deram origem. Contam a tragédia de pessoas, na sua maioria com idade de 18 a 24 anos, que tombaram em confronto com o regime autoritário, e reconstroem a violação dos direitos humanos. O sacrifício não foi em vão. Dão oportunidade às atuais e futuras gerações de viverem a liberdade conquistada que seus exemplos possibilitaram. É dessas dores que trata este livro. A contundência das histórias desses combatentes fere e há de despertar a consciência daqueles que desconhecem o que é e o que representa para a população um regime ditatorial. A sua leitura provocará reações emocionais. Mas é preciso conhecer para compreender e, assim, impedir que não mais volte a acontecer ditadura no País. A radiografia dos atingidos pela repressão não está concluída. Muito há, ainda, por esclarecer. A ocultação dos fatos e a negação ao direito à verdade e à justiça limitam ações reparadoras, impedem a transmissão da memória daqueles anos de violência. Porque, acima de tudo, a ditadura prendeu, torturou, sequestrou e assassinou aqueles que ousaram combatê-la.
Nossa mensagem para os jovens é a de que esse livro esclareça fatos históricos a partir do que outros jovens sofreram, em passado recente, e, sobretudo, que seja um instrumento para discussões e reflexões em sala de aula, levando os nossos estudantes a se tornarem guardiães da liberdade que, hoje, usufruímos e que custou tantas vidas. Às famílias desses combatentes, nosso abraço solidário. Cabe aqui registrar o significativo slogan da Comissão Nacional da Verdade: “O passado não pode ser modificado. Mas conhecê-lo pode mudar o futuro”.
Secretário da Educação
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