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Secretário Pinheiro concede entrevista à Tribuna da Bahia
Senador licenciado e atual secretário de Educação da Bahia, Walter Pinheiro (sem partido) diz que o loteamento de cargos feito por Michel Temer “é um dos grandes problemas da política”, e que o programa de governo deve ser a diretriz de qualquer gestão. Além disso, ele acredita que a Operação Lava Jato é um dos métodos mais eficazes para extirpar o “tumor” da corrupção do país. “Para esse tumor não voltar, a Lava Jato tem que ir até o fundo.
Foi doloroso, tivemos impactos negativos na economia, mas eu pergunto que economia iria para frente lastreada do jeito que estava? Um dia o tumor iria estourar, e iria estourar para dentro”, aponta. Em entrevista exclusiva à Tribuna, o ex-petista ainda pondera sobre a importância da delação premiada, sobre a sua proposta de alterar a Lei do Impeachment, comenta o seu futuro político e expõe as razões que o levaram a assumir a Secretaria da Educação da Bahia. Confira.
Tribuna - Senador, o jogo virou. Como o senhor avalia o atual momento da política brasileira? Tenso?
Walter Pinheiro - Não diria que o jogo virou, diria que ainda há uma confusão no campo, que é o mais correto. E que essa confusão dentro de campo é algo que sacode a arquibancada. Porque você tinha um nível de reação nessa arquibancada, na rua, na sociedade, muito pautada pelo que aconteceu com o governo. A primeira grande manifestação aconteceu em junho de 2013, antes da Copa das Confederações. De lá para cá, fomos convivendo com uma efervescência entre crítica ao governo e problemas na economia. É vero que tivemos uma verdadeira queda do ponto de vista das ações de governo para o crescimento da economia, para a geração de postos de trabalho, o problema da MP do setor elétrico, aliado à questão da Petrobras, que é a nossa maior fonte de inspiração para a economia. Eu diria que a Petrobras hoje é para o Brasil o que o café era na época de Delfim. Portanto, essa efervescência está em campo justamente por causa dessas denúncias, e ainda tem muita coisa para acontecer daqui até a votação do impeachment, em agosto, no Congresso Nacional.
Tribuna - Na visão do senhor, foi a política, a economia ou a roubalheira que derrubou a presidente Dilma?
Walter Pinheiro - Diria que uma combinação dos três fatores. A política, e economia e esse desvio de rumo, se é que podemos chamar assim. Porque o desvio de rumo provocou tudo isso que estamos vendo. A sociedade está indignada, olhando para a política com um olhar cada vez mais cético e, eu diria, até agressivo. E do ponto de vista da economia porque vínhamos de resultados muito positivos, e de repente tivemos uma quebradeira, logo depois da eleição. E o remédio apresentado pelo governo Dilma, ainda com Levy no final de 2014, foi completamente equivocado, não deu respostas. Depois tivemos o fator da política, abalada por esse desvio de rumo que falei antes, e também responsável por não ter interferido de forma muito clara, consistente e incisiva para resolver o problema da economia.
Tribuna - Acredita que a presidente Dilma consiga retornar ao poder após o julgamento no Senado e no Supremo?
Walter Pinheiro - Há uma possibilidade de mudança. Pertenço a um grupo de seis senadores que propuseram três coisas: novas eleições, que foi apresentada por nós até 11 de maio, data da votação do impeachment no Senado; apresentamos também uma proposta de plebiscito e de alteração da absurda lei de 1950, que já condena alguém antes mesmo de julgar. Então tudo isso pode ajudar alguns senadores que votaram a favor do impeachment a pensar em mudar o seu voto. Estou achando muito difícil virar o placar, mas acho que esse deve ser o elemento: mais do que a história da volta de Dilma, ou a continuidade de Michel, o que estamos apostando é que a sociedade, que está respondendo bem à ideia, considerando que as pesquisas mostram que 65% querem novas eleições, se comprometa com isso. Se houver, é provável que a gente vire o voto, se não houver, acho que a tendência natural é perdermos a votação em agosto.
Tribuna - Se o senhor ainda estivesse no Senado, como seria o seu voto em relação ao impeachment?
Walter Pinheiro - Da mesma forma que votei no primeiro momento. Por que votei contra a admissibilidade do impeachment? Porque acredito que a solução do Brasil não está nem no interino ficar nem Dilma continuar. Precisamos marcar novas eleições no país. E para ter novas eleições ou plebiscito, é importante que o impeachment não vingue.
Tribuna - Ainda é possível viabilizar novas eleições ou é um cenário cada vez mais distante apesar de a proposta ter sido colocada?
Walter Pinheiro - Diria que a proposta é correta, boa e tem viabilidade uma eleição no dia 2 de outubro. Não vai acrescer nada. As urnas serão colocadas em todos os lugares do Brasil. A única coisa que você faria era acrescentar nessa urna, ou uma perguntinha do plebiscito ou dar um voto a mais, para presidente da República. Do ponto de vista estrutural, é uma grande mentira de quem diz que não tem condição porque gasta mais dinheiro. Agora tem outra coisa que é o Congresso Nacional que não quer isso. Todas as vezes que falamos em dar ao povo a possibilidade de decidir, o Congresso prefere dizer que isso é inconstitucional.
Tribuna - Como avalia o começo da gestão de Michel Temer?
Walter Pinheiro - Um governo de turbulência, com queda já de mais um ministro. Talvez esse seja o maior dos problemas, a instabilidade. O governo apresentou agora o seu primeiro pacote, depois de idas e vindas. Antes de tomar posse, o governo dizia que haveria a possibilidade de recriar até a CPMF, mas voltou atrás. Disse que iria mexer na previdência, na idade mínima, aí, por conta das pressões, voltou atrás. Agora inventou essa história de teto para gastos públicos, chegou inclusive a falar em mexer no ICMS, que para mim é o mais correto. Reduzir o ICMS e unificá-lo em todo o Brasil. No entanto, o governo abandonou isso. Então o governo ficou refém de si próprio, de idas e vindas, e o que passou a ser a maior atenção é saber quem ele vai nomear e quem vai ficar. Então imagine um governo que, mesmo interino, disse que faria mudanças consubstanciais na economia, mas está mais preocupado com as mudanças que fará na sua equipe.
Tribuna - A divisão de cargos é uma repetição de erros dos governos do PT, já que estamos percebendo o loteamento que foi feito nesse começo de gestão?
Walter Pinheiro - Diria que é um dos grandes problemas da política. Toda vez que se faz loteamento, você termina precarizando e desprofissionalizando completamente a estrutura pública e fica fazendo um atendimento de balcão. O governo de Michel Temer começou assim. É verdade que ele ganhou votos na Câmara com promessas de ministérios, e esse foi um dos grandes erros do governo. Eu saí do PT, mas estive na campanha de Dilma em 2014 e um dos grandes erros foi o loteamento. Vou citar um caso bem emblemático. Dilma passou quatro anos sem receber Eduardo Suplicy, ele disse isso na tribuna quando foi embora do Senado. Ele queria levar a Dilma a sua proposta de renda mínima, e Dilma passou quatro anos recebendo um monte de gente que queria renda máxima. Então essa colcha de retalhos na composição de governo, e principalmente o loteamento e não o programa como diretriz, é capaz de derrubar qualquer governo.
Tribuna - O senhor foi líder durante muito tempo e ganhou visibilidade no Senado. Como avalia a relação com a presidente Dilma? Ela era uma líder que impedia relações saudáveis na República?
Walter Pinheiro - Não diria que Dilma tenha uma peça que não ajuda. Ela tem uma virtude muito grande, um apego na questão da gestão. Não quero chamar de erro ou quebrar a virtude, mas ela tem uma coisa que eu acho equivocada, que era administrar de forma centralizada. Ninguém pode governar centralizando a condução. Tanto é que, quando perguntavam qual era o melhor ministro de Dilma, todos respondiam: “Dilma”. Então Dilma era a presidente e a ministra de todas as áreas, em um Ministério com 39 pessoas. Então para mim o maior erro foi esse. Se ela tinha a gestão como excelência, ela também teria que ter exercido com excelência a história de saber delegar para as coisas andarem.
Tribuna – O Eduardo Cunha será cassado pelo plenário ou o corporativismo vai imperar na Câmara Federal?
Walter Pinheiro - Acho que há uma tendência de que a opinião pública pese muito mais. Veja lá o voto de Wladimir, do Pará. Alguns falam que a deputada da Bahia foi a decisiva, mas não foi. Na minha opinião, o voto decisivo no Conselho foi o de Wladimir, porque ele tinha votado a favor na primeira votação. Se ele tivesse mantido o voto, o voto minerva teria sido de José Carlos Araújo. Então isso foi por conta de pressão externa.
Tribuna - Como avalia a Operação Lava Jato? Há excessos em sua condução?
Walter Pinheiro - A Operação Lava Jato é uma das coisas boas que ‘pintou’ no Brasil. Isso eu avalio igual àquela história de tumor. Me lembro que quando a gente era criança e tinha um tumor, colocava aquele pano quente para tirar. Então, para esse tumor não voltar, a Lava Jato tem que ir até o fundo. Foi doloroso, tivemos impactos negativos na economia, mas eu pergunto que economia iria para frente lastreada do jeito que estava? Um dia o tumor iria estourar, e iria estourar para dentro. Agora, o que faltou ao governo e ao Congresso era terem uma atitude diferente e cumprir o seu papel enquanto a Lava-Jato cumpria o seu. Resolver as questões da nação e não ficar se preocupando com o que a Lava-Jato está fazendo, perguntando se houve excesso. Excesso vamos ter em todas as coisas. O problema é o lado de cá ficar olhando se teve excesso e não cumprir a sua tarefa.
Tribuna – Vê as delações premiadas como instrumentos importantes para combater as irregularidades que dilapidam os cofres públicos?
Walter Pinheiro – As delações são coisas que às vezes realmente contribuem. Você termina pegando um elemento das delações e vai produzindo peças para apurar. Mas é preciso ter um pouco de cuidado. Às vezes um sujeito ferido faz uma ilação e não uma delação, e essa ilação vira verdade. Acho que essa delação deveria ser acompanhada de forma rigorosa pelas instâncias de apuração antes da divulgação. Em um processo na pinça, para saber se a delação encontra lugar, se efetivamente está no contexto, se tem provas e se tem elementos que ligam aquelas palavras a fatos e a atos patrocinados. Porque senão você joga para cima e condena pessoas antes do julgamento. Além disso, muitas pessoas que delataram disseram coisas do tipo: “Eles contribuíram com campanha”. Quando você vai ver, o sujeito deu 10% para a campanha e 90% ele colocou em uma conta sua no exterior. Tanto é que estão devolvendo dinheiro que não acaba mais. Então devemos ter a delação para a investigação, a averiguação, e muito cuidado para que ela não seja só e somente só uma ilação.
Tribuna - A Operação Lava Jato já chegou ao ex-presidente Lula e atingiu Jaques Wagner. Como avalia essa situação, já que eles são dois dos maiores nomes do partido?
Walter Pinheiro - Tanto o caso de Lula quanto o de Wagner você ainda tem elementos que são pessoas colocando diversas coisas, aí já foram condenando. Pelo que me consta, Wagner não foi sequer chamado para dizer qualquer coisa e já estão condenando, dizendo que foi atingido, que Wagner está envolvido… Outra coisa que me chama a atenção é que todo mundo fica colocando sempre eleição como elemento central, dizendo que acabaram de tirar da linha de frente os próximos candidatos em 2018. Então na realidade, temos que ter muito cuidado com isso. Porque senão, de novo, as delações viram uma busca incessante de algo para você atingir, e não para apurar. Você transforma esse processo de coletar dados de uma delação para atingir outro. Vi diversas pessoas falando de campanha. Alguém recebe um dinheiro oficialmente para a campanha, mas o delator diz que era propina. O acerto de propina era entre o delator e quem ele procurava, e não a pessoa que recebia dinheiro como recurso para a campanha. E tampouco você pode vincular quem recebeu recursos para campanha com facilidades entre a figura que por ventura hoje é delator e aquele que se beneficiava com a questão dos contratos.
Tribuna - O que o fez aceitar o desafio de assumir a Secretaria de Educação do Estado, após ter se desfiliado do PT?
Walter Pinheiro - Aceitei o convite do governador e até o questionei. Ele disse que era bom eu ir como CPF e não como CNPJ. E outra que eu estava indo para uma área que, do ponto de vista central da educação, eu não teria os atributos necessários para isso. Mas ele disse que estava me chamando pela minha experiência na área da gestão, minha experiência na Secretaria de Planejamento. E também pela minha área de profissão, na qual atuo muito, que é a área de Tecnologia da Informação, e que hoje a gente aplica diversas ferramentas para a educação, para a saúde, para a vida, para as cidades, ou numa linguagem muito na minha área, chamamos de IOT, ou Internet das Coisas. Portanto aceitei o desafio porque vi que tinha coisas para fazer ali. Me assustei com o tamanho do desafio, mas o aceitei por ser novo na minha vida.
Tribuna - Soou estranho dentro e fora do PT o fato de o senhor ter sido um dos grandes críticos do governo Dilma e ser contemplado com a Secretaria de Educação. Se incomodou?
Walter Pinheiro - Não, porque o governador Rui deu uma lição a todo mundo. Porque secretaria não pode ser balcão. Olha o exemplo dos ministérios. Secretaria ou qualquer outro órgão do Estado deve ser tratado como algo de importância e não com essa história de contemplar quem é da base, quem não é da base, fazer uma divisão, trabalhar com isso como se fosse balcão de negócios. Então o governador Rui mais uma vez vai dando uma demonstração que, além de fazer uma boa gestão, o faz com compromisso com a gestão e não com as eleições.
Tribuna - O senhor já escolheu para qual partido pretende migrar?
Walter Pinheiro - Essa é uma coisa boa, isso até ajudou bastante o governador a definir a minha ida para a secretaria. É bom porque eu também não estou atendendo a cota partidária nenhuma, tampouco sofro pressão dessa história de cota de ocupação de espaço. Isso está me permitindo montar a secretaria com bons técnicos. Vou ter que me decidir um dia para onde vou. Posso até não decidir. Fiz a decisão de não assumir nenhuma agremiação partidária até porque eu tinha decidido que não disputaria eleição em 2016, apesar de muita gente ter dito que eu seria o candidato. Eu disse ao governador que só tomaria a decisão depois do dia 2 de abril, a data-limite. E também não sei o que vou fazer em 2018. Pode até ser que eu não dispute eleição nenhuma, que é outra vantagem do trabalho que posso fazer na Secretaria de Educação. Não estou fazendo o trabalho pensando nas eleições, mas nas gerações.
Tribuna - Como avalia o cenário eleitoral em Salvador este ano?
Walter Pinheiro - Vai ser um cenário difícil, tanto em Salvador quanto em outros municípios Brasil afora. Vamos ter muitas dificuldades porque o que vai estar em julgamento serão os partidos, que vão estar na berlinda. E óbvio que essas coisas todas de Lava-Jato, o que aconteceu no Congresso Nacional, por exemplo, a população vai terminar olhando isso com mais cuidado. E as disputas eleitorais serão marcadas exatamente por ataques. Então teremos uma eleição muito mais de ataques do que de programa. Teremos muitas dificuldades para o processo eleitoral, o que pode, inclusive, nos levar a escolhas não tão boas assim para a gestão das cidades.
Tribuna - O PT pagará um preço alto nessas eleições?
Walter Pinheiro - Não me sinto muito habilitado a dizer isso hoje, para que o povo do PT não diga que estou fazendo ataques ao partido. Nunca fiz nenhum ataque ao PT, pelo contrário, tenho agradecimento por tudo o que pude participar, tudo o que pude fazer dentro do partido. Foi uma boa trajetória de vida, mas acho que o PT vai terminar sofrendo bastante, até porque no período em que o PT fez muitas coisas boas pelo Brasil, no mesmo período aconteceram coisas que puderam vir à tona. Não sei se nos outros tempos a transparência era tão transparente assim. Aliás, uma das grandes virtudes do governo Lula foi isso: instituir Lei de Acesso à Informação, transparência ao extremo… Então acho que o PT vai sofrer sim, mas tem todas as condições de enfrentamento.
Fonte: Tribuna da Bahia
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