Poeta (des) inspirado - Diogo dos Santos Ferreira, 17anos, 3 º ano do ensino médio do Colégio Estadual,  Dom Pedro II, Coração de Maria - Direc 2 – Feira de Santana/Ba.

Cerca de vinte na sala...
Mas tinham que ser vinte e cinco.
VA BENE! Vinte pessoas com afinco
Tentando escrever um poema
Qual será o meu tema?
É o que cada um pensa
Falta de pão na despensa
Falta de mãe, de lar.
Ladrões ricos ao mar
Alguns se tornaram sócios
Amores que viram consórcio
Se despedaçam ante o divórcio
Escrever, é o único lema
Diante do universo de temas
Das vinte pessoas na sala

Cerca de vinte na sala
Espere! Agora são vinte e quatro
O último será um turista?
Seu nome é o primeiro da lista
O fato é que, na verdade,
Vinte quatro na sala
Tentam escrever um poema
Mas há um sentado no canto

Pensa em falar do pranto
Das drogas, da Intifada,
Da mentira mal contada

Por um corrupto de Brasília
Do amor de uma filha
Pela mãe, e vice-versa
Dos amigos na conversa
Numa velha mesa de bar
Da terra, do sol, do mar
Da bondade, do ódio, da luta
Das artimanhas dos filhos-da ...
Perfeita insanidade.

Pega o grafite, acabou a ponta?
No menino sentado no canto
(Ainda sem nenhum afinco)
Uma esperança desponta
De tanto apertar o botão
Apenas olha, nada fala
Então, começa a escrever
‘Cerca de vinte na sala...’
 

 A velha rua - Danielli Gabriel da Silva, 14 anos, 9º ano do ensino fundamental do Colégio Estadual Luís Viana Filho - Jaguari - Direc 28 – Senhor do Bonfim/Ba.

A rua ficou velha no final da tarde,
Com as barbas da morte confortou a vida com sua oração.
Ao descansar, fez ressurgir um exército de almas noturnas
A agitar a escuridão da noite.
Com suas vozes e forças começaram a limpar aquela velha rua,
A zelarem pelo sono daqueles que descansam com a velha rua.

A rua ficou velha no final da tarde,
E nas trilhas de sangue emergem soldados
A salvarem as vidas das vítimas que padeceram com o cansaço da escuridão
E, do outro lado da velha rua,
Fazedores da alegria animam aqueles que perderam o sono.

A rua ficou velha no final da tarde,
E, no meu quarto,
Gotículas de sangue azul
Espalham-se em páginas cor-de-rosa
Em meio ao registro do pensamento de uma recém-poetisa
Que perde o sono,
Ao pensar no cansaço dos que sobreviviam da noite.

A rua ficou velha no final da tarde...

Eterno - Hyezza Lavínia Lima Tavares (16 anos), 2º ano do ensino médio do Colégio Estadual Luís Eduardo Magalhães - Direc 28 – Senhor do Bonfim/Ba.

O ponto havia chegado e com ele um leve tremor nos lábios da menina: estava ansiosa, estava nervosa e excitada. Entrou vagarosamente no espaço e era como se uma luz grande e majestosa surgisse em clarões e em diversos pontos. Era como se estivesse em um templo sagrado e apenas os que conseguissem ver a aura que o local transmitia, conseguiriam um lugar na luz.

Uma livraria

Os grandes olhos marrons da menina saltaram das órbitas, iluminados, resplandecentes... Fulgentes. Era como se encontrasse uma mina de ouro, ou um corte de esmeraldas... Era tudo tão lindo... Tão supremo...

Livros.

E ela o avistou; sua joia mais rara... Sua preciosidade mais desejada e cobiçada. Era o livro que procurava, e ele parecia estar tão chamativo naquela estante. Parecia que almas perdidas se encontravam depois de vidas separadas. Ela podia chorar nesse momento, a emoção e a excitação eram tão grandes que ela soltava soluços de felicidades.

Agarrou-o.

Não poderia soltá-lo jamais.

Permitiu-se olhar para outros livros espalhados tão simetricamente em todas as estantes para que pudessem vê-los. A menina sabia que eles passavam meses nas estantes e teriam de limpá-los quando já estavam empoeirados sem ter alguém para cuidar deles e acarinhá-los, ela se sentia mal por isso, por seus preciosos livros não terem tanto valor assim para outras pessoas.

Suspirou e encaminhou-se até a mulher que a esperava sem humor, era sempre assim, catou as moedas e notas, e entregou à moça. A menina parecia tão inocente com aqueles olhos tão expressivos. Orbes marrons tão profundas, densas, intensas... Poderiam guardar muita coisa e não vivenciar nada do que tinha ciência.

A menina agarrou o livro contra o peito e um ar confiante a apoderou; ele a pertencia agora, como seus inúmeros irmãos em seu quarto.

A menina praticamente voou para sua casa, batendo as portas e largando suas pequenas sapatilhas pelo chão da sala. A mãe nada falava, era sempre o mesmo ritual, os olhos piscando em agitação, a respiração entrecortada e o sorriso nos lábios, este alternava-se  entre casto e malicioso.

Enfim, ela chegou ao seu santuário: seu quarto. Sempre tropeçava nas caixas de livros velhos e já lidos e relidos. Jogou-se na cama ignorando o fato que estava a desarrumando, abriu o livro e a viagem começou.

Não existia mundo ou universo. Não existiam pessoas... Não existia ela... Apenas os personagens com seus truques e jogos violentos ou então... Com sua meiga e frágil inocência.

Tudo mudou, a própria menina mudou. Antes, o olhar quieto, tímido e inocente... Agora era lascivo, inquietante e carnal... Libertino... Impudico... Sensual e malicioso... Ela está em pleno gozo. Um êxtase que, ao mesmo tempo em que é puríssimo, é maléfico e maldoso. O diálogo tornava-se incessante: o livro falava e a essência respondia, os únicos elementos presentes eram: a paixão da menina... A solidão e o silêncio do quarto... E o livro. Um cerne único que, quando se encontravam naquele rito selvagem e atraente, se fundiam em um só.  De duas uma, ou aquilo a formaria em uma personalidade singular... Ou aquela obsessão a arruinaria.

O livro eram pedaços do incomensurável para a menina, e ela lambia do mel exposto por ele e alucinava-se. E, por um pequeno momento da vida solitária, a vazia da menina tão nova ela trocava o fastio de horas de inefável por uma deliciosa e viciante companhia.

E ela está ali na caridade da evolução de seu ser: quer ser menina e encontra-se mulher; quer ser mulher e vê-se menina.

E esse círculo vicioso – entre menina e mulher – se repetirá até abrir a estirpe exposta da terra, até fenecerem os pontos celestes, até as horas emurchecerem em pó, até a mocidade perder o viço...

Será, portanto, eterno.

A entidade o tempo -  Marcos Pereira Lopes,  (19 anos ), 2º ano do ensino médio do Colégio Estadual  Nair Lopes Tenkins, Wenceslau Guimarães – Direc 5 – Valença/Ba.

Pra começo de conversa
Vou logo me apresentar
Eu sou o tempo
Em todo lugar posso estar
No mundo, tudo já vi
Desde que Deus pôs a terra criar.

Onde me encontrar?
Na noite que cai
Nas fotos que desbotam
No sopro da vida que se esvai
No acalmar da dor da mãe que perdeu seu filho
Na intensidade do adeus de quem fica e quem vai.

Faço do amor consorte
Para quem não sabe amar
Sou quem determina vida e morte
A homem que não aprendera a guerrear
Transformo verde em maduro
Onde a árvore bons frutos sei que dará.

O homem tenta me controlar
Relógio, cronômetro e calendário
Onde nos seus devaneios ficam a desejar
Milênio, século e segundo
Persistem a me domar

Passado, presente e futuro.

Os mortais ousam falar em eternidade
Trazendo consigo saraivadas de dor
No ódio e guerras
Sucumbindo a ganância do anjo insidiador
A eternidade, apenas um conceito imaginado
Vivenciado unicamente pelo divino criador.

Vós perguntais o que há de bom em mim
Então, eu vos digo,
Não excluo com base em raça, cor ou etnias
Não diferencio homem de posses, do mendigo
Não diferencio homem, de mulher
Nada aos meus olhos o distingo.

Eu fui feito para o homem
E esse fez de mim um inimigo a ser combatido
Os velhos têm medo, as crianças me anseiam
Os sábios me transformam em aliado
Feliz daquele que me enfrenta
Sem receio de ser devorado.

Venham, cheguem mais perto
Agora o meu segredo irei contar
Se imagine infinito,
Para não me ver passar
Viva intensamente
Sem precisar os minutos contar.
 

O homem invisível - Lucas Lopes da Rocha (17 anos), 3º ano do ensino médio do Colégio Estadual Polivalente de Itanhém - Itanhém - Direc 9 - Teixeira de Freitas/Ba.

Sempre precisei
De um pouco de atenção
Eu nunca estudei
Mas tive educação
E por falta desse estudo
Plantei mandioca, colhi feijão.

Trabalhei duro na roça
Pra manter minha vidinha
Pois tinha o grande sonho
De construir minha casinha
E depois de algum tempo
Criar pato, criar galinha.

Nessa vida sertaneja,
Eu tinha que me virar
Minha escola era o roçado
Meu diploma trabalhar
Mal tinha tempo pra comer
Imagina pra estudar.

Até tentei ir à escola
Pois via nela grande importância
Mas meu pai foi me buscar
Com tamanha arrogância
Me arrancou à força da sala
Fui vítima da ignorância.

Saindo à força da sala
Mesmo contra a vontade
Olhei no rosto de meu pai
E não vi nenhuma maldade
Vi lágrimas escorrerem
Voltei à realidade.

Realidade de gente pobre
Que não tem onde viver
Pessoas sem identidade
Pois trabalham pra comer
De pessoas com futuro duro
Sem na vida ter prazer.

Fiquei anos trabalhando
Para nada conseguir
Hoje tenho 20 anos
E quero sair daqui
Vou pra capital
Pra tentar reagir.

Arrumei minha bagagem
E tomei minha direção
“Vou para Salvador”
Sem ter diploma na mão
Com mente de analfabeto
Mas com fé no coração.
 
Chegando na rodoviária
Já veio o primeiro tormento
Entrei dentro do ônibus
E saí no mesmo momento
Pediram minha retirada
Eu não tinha documento.

Saindo daquele ônibus
Me senti meio cercado
Mas em todos que entrava
Eu era rejeitado
Então loquei um carro
E nele fui transportado.

Chegando na cidade
Não tinha nenhum companheiro
Aluguei um quarto simples
Pois tinha pouco dinheiro
Estava atrás de todos
Mas queria ser o primeiro.

Então, fui para a luta
Para um emprego procurar
Minha animação era grande
Eu queria trabalhar
Só não estava preparado pra ver
O que a vida ia me mostrar.

Na primeira entrevista,
Me mostrei de peito aberto
Naquele momento pensei,
Meu emprego já é certo
Mas com frieza eu ouvi
Não dou emprego pra analfabeto.

Voltei pra rua
Tentei outro lugar
Olhava vários cartazes
Não conseguia enxergar
E por ser desconhecido
Ninguém queria me ajudar.

Retornei à pousada
Me senti entristecido
Meu dinheiro estava acabando
Meu prazer havia morrido
E a esperança de um trabalho
Não estava mais comigo.

Passaram-se sete dias
Meu dinheiro havia acabado
Logo veio a notícia
Você vai ser despejado
E sem ter lugar pra ir
Na rua, eu fui jogado.

Saindo daquela pousada
Peguei minhas coisas do chão
Olhei para um céu cinza
Com um aperto no coração
Lembrei da minha vida simples
E andei sem direção.

Quando percebi,
Minha vida estava perdida
Não tinha um tostão no bolso
Eu estava sem saída
E pra não morrer de fome
Comecei a pedir comida.

Logo passaram-se dois meses
Me senti arrependido
Eu andava solitário
Não tinha nenhum amigo
Já não era mais caipira
Agora, era um mendigo.

Um simples catador
Um invisível ambulante
Uma pessoa pequena
Que queria ser grande
Uma pessoa com futuro
Nem um pouco interessante.

Durmo embaixo de pontes
Ao lado de cachorros
Como pior que eles
Não tenho nenhum socorro
E para me aquecer à noite
Fico ao lado do fogo.

E, dormindo perto do fogo,
Eu não enxergava nenhum mal
Mas numa noite de vento forte
Um acidente quase fatal
As chamas me alcançaram
Acordei no hospital.

Fiquei internado
Entre a vida e a morte
E, apesar de estar bem fraco,
Meu espírito estava forte
Queria sobreviver
Mesmo sem ter muita sorte.

E depois de muita luta
Consegui sobreviver
Tomei vários remédios
Tentei me reerguer
Mas meu corpo estava frágil
Não tinha muito o que fazer.

Na saída do hospital,
Me senti detonado
As pessoas me olhavam
Com o rosto enojado
Me senti um animal
Com o corpo deformado.

Ali, sentei em um canto
E comecei a chorar
Pois lembrei da minha terra
E tive vontade de voltar
Mas com o corpo fragilizado
Nem lixo podia catar.

Fiquei anos pedindo esmola
Me virava como podia

De manhã comia um pão,
Já à noite eu não comia
Passava necessidades
Com enorme agonia.

Agora, estou aqui
Com vontade de voltar
Pra rever minha família
O meu querido lugar
E se um dia eu conseguir
Nunca mais saio de lá...
 

Enquanto a vida não vem - Giselle Souza Oliveira (17 anos), 2º ano do ensino médio do Colégio Estadual Governador Luiz Viana Filho - Santa Rita de Cássia - Direc 25 – Barreiras/Ba

Enquanto a vida não vem...
Fico andando pelos campos
Juntando cores e prantos
Sentindo o vento soprar.

Enquanto a vida não vem...
Vou brincando com as crianças
Criando formas de danças
Incentivando-as a sonhar.

Enquanto a vida não vem...
Fico dentro da senzala
Olhando os troncos e varas,
Que um dia hão de acabar.

Enquanto a vida não vem...
Eu fico bem escondido
Junto ao meu povo sofrido
Dias melhores a esperar.

Enquanto a vida não vem...
Vou servindo de animal
Com minha força carnal
Não ouso te desapontar!

Enquanto a vida não vem...
Vou apenas existindo
Pensando, sonhando, rindo
Lágrimas a enxugar.

É a luta de um povo sofrido
Que, sem tanto, foi oprimido
Mas que, enquanto a vida não vinha,
Jamais desistiu de lutar.


 

O advogado e o coitado - Samira Rocha Matos (16 anos) e Thayná Brito Laranjeira da Silva (16 anos), 2º ano do ensino médio do Colégio Estadual Professor Valdir de Araújo Castro - São Félix do Coribe - Direc 26 - Bom Jesus da Lapa/Ba.

Nessa vida que eu levo
Nem tempo tenho pra pensar
Moro em uma bela casa
Na praia de vista pro mar
Fica em Copacabana
Mas nem posso desfrutar.

Nesse fiapo de vida
Nem o esqueleto consigo espichar
Moro dentro de um barraco
Que fica no Ceará
Donde tem muié bonita
Pru mode da gente dançar.

Sou um grande advogado
Na lei, sou um doutor
Ganho rios de dinheiro
Mas não dou muito valor
Para os pobres ignorantes
Que nem mesmo estudou.

Sinhô cum todo respeitu
Sou um pobre trabalhador
Num tenho sua sabidez
Mas tombém sô um dotô
Sei cuidá da prantação
E ainda sou curador.

Troco de carro todo ano

Nem penso em andar a pé
Tenho uma esposa linda
Empregados e chofer
Estou cercado de luxúria
E você vem falar de fé!

Minha carroça tem 10 ano
E quem puxa é o Sansão
Minha muié já farta dente
E eu tem calo na mão

De tanto eu trabaiá
Vou morrer do coração.

Sou a minha casa
Sou a minha profissão
Vivo tudo que tenho
Mas é pura ilusão
Sou duro por dentro
E nem vivo por emoção.

Sei que desordi da vida
Ocêis tudo é passageiro
Inté a casa e o carro
E adispois o dinheiro
Ocê é um homo rico
E eu um pobre brejeiro.

Infelizmente essa é a história
Entre classe social
Rico é rico, pobre é pobre
Nenhum deles é igual
Rico é ser humano
Pobre é animal.

Fora de moda – Elias Sacramento Pereira (20 anos), 4º ano do ensino médio da Escola Estadual Dr. Ailton Pinto de Andrade - Direc 1B - Salvador e Região Metropolitana de Salvador/Ba.

Se não estivesse fora de moda,
Eu iria falar de amor,
Daquele amor sincero,
Olhos nos olhos, frio no coração.

Daquela dorzinha gostosa,
De ter muito medo de perder tudo,
Daquele momento que quem já amou
Um dia conhece bem.

Daquela vontade de repartir,
De dividir todas as coisas,
Mas, não para retê-las no egoísmo material da posse,
Mas doá-las com sentimento nobre de amar.

Se não estivesse fora de moda,
Eu iria falar de sinceridade,
Sabe aquele negócio antigo de fidelidade,
Respeito mútuo e, outras coisas mais...

Aquela sensação que embriaga mais que bebida,
Que é ter numa só pessoa,
A soma de tudo, que às vezes, procuramos em muitas...

A admiração pelas virtudes,
A aceitação dos defeitos,
Mas, sobretudo, o respeito pela individualidade,
Que até julgamos nos pertencerem,
Sem direito de possuir.

Se não estivesse tão fora de moda,
Eu iria falar da amizade,
Daquela amizade que deve existir entre duas pessoas que se querem,
O apoio, o interesse, a solidariedade de uma
Pelas coisas da outra e vice-versa.
A união além dos sentimentos,
A dedicação de compreender para depois gostar.

Se não estivesse tão fora de moda,
Eu iria falar de família. Sim, família,

Essa instituição, que, ultimamente, vive à beira da falência,
Sofrendo contínuas e violentas agressões,
Pai, mãe, irmãos, irmãs, filhos, lar. Isso mesmo.

O bem maior de ter uma comunidade
Unida pelos laços sanguíneos,
Protegidas pelas bênçãos Divinas.

Um canto de paz no mundo,
O aconchego da morada,
A fonte de descanso e a renovação das energias

Família, o ser humano cumprindo sua missão
Mais sublime de sequenciar
A obra do criador.

Depois, teria até pensado em falar de algo como a felicidade,
Mas, é pena que a felicidade como tudo mais, há muito tempo,
Já está fora de moda,
Sinto-me feliz por estar tão fora de moda,
E você, também está fora de moda como eu?
 

Jovens de papel – Saron Souza dos Santos Damasceno (18 anos), 3° ano do ensino médio, Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães - Direc 16 – Jacobina/Ba.

Nas areias do tempo
Alienados e indecisos
Como folhas ao vento,
Vejo jovens a caminhar:

Frágeis crianças, feitas de sonhos,
Tristes palhaços a sorrir e chorar.
Jovens ingênuos são levados
Como papéis amassados,
Ao sabor do vento...

Oh! Vejo jovens sem brilho:
Páginas em branco
De livros esquecidos:
Mentes manipuladas,
Fantoches iludidos.

Como folhas amassadas
Como linhas mal escritas,
Vejo jovens de papel
Ao sabor da brisa...

Como num sonho passageiro
Folhas passadas voam
Levando suas tristes mágoas
Em águas de pranto.

Em papéis nobres
Se escrevem sonhos,
A realidade se transmuta,
Descortinando novos horizontes.

Entretanto, a pena
Não escreve por si só,
Mas o que é o ser escritor,
Senão um servo da escrita?

Perguntarias então:

“Somos a palavra pensante
Ou apenas um indiscreto objeto”?

Escuta, porém o que digo:
“entre a liberdade de escrever
E as correntes da palavra escrita,
Aquele que escreve encontra também a Fantasia,
A singela criatura que lhe abre as portas
Do seu mundo imaginário,
Onde o ser criado lhe sorri
E lhe faz bem”.

E do papel em branco
Surge a transformação:
Jovens reciclam papéis,
Transcendendo barreiras
Através da argumentação.

Papéis propagam ideias
E no “teatro íntimo do ser’’
Provocam uma silenciosa,
Reflexiva revolução.

Papéis renovados, então, gritam:
“Já não estou só: sou um livro,
Fundamentado e bem escrito”!

Sim, pois em cada jovem
Há uma força adormecida,
Que, esperando a sua hora,
De repente explode:

“Ah”! Que delícia é “poetar”!  
É um sonho tão intenso
Que mesmo a contexto,
Ninguém sabe explicar!

Ah! Que doçura é deixar
A pena deslizar na folha virgem,
As palavras afoitas a surgirem,
Como pássaros e voar e cantar!”

E nesta euforia poética
Papéis entesouram segredos
São portais escondidos na biblioteca.