Formação Continuada 2021: Educadores discutem novas formas de avaliar os estudantes

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Dentre as atividades que compõem o processo de ensino e de aprendizagem, a avaliação é uma das mais importantes. Em situações normais, a avaliação já tem um caráter inquietante, com suas classificações e instrumentos diversos. Em contexto pandêmico, o distanciamento entre estudantes e professores faz com que essa etapa do processo demande mais cautela e empenho dos docentes e coordenadores pedagógicos.
 
Nos encontros do Plano de Formação Continuada Territorial, oferecido pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia para mais de 8.000 educadores das redes estadual e municipais do estado, as pautas formativas também contemplam este tema, trazendo a avaliação formativa como centro das discussões. O método avaliativo contempla não apenas o estudante, mas todo o processo de ensino, inclusive a prática didático-pedagógica do professor.
 
Em um dos encontros formativos do Núcleo Territorial de Educação 03 (Seabra), Território da Chapada Diamantina, que aconteceu no último dia 7 de junho, a formadora Maria Joselma Noronha trouxe tanto o conceito de avaliação formativa quanto exemplos práticos de escolas que estão realizando trabalhos de referência neste quesito. “A avaliação formativa é aquela que vai dando condições do sujeito explicitar seus conhecimentos, sejam escolares ou da própria vida. Proporciona ao sujeito a tomada de consciência sobre o que sabe, o que se espera dele e o que ele precisa efetivamente saber. Os sujeitos precisam se dar conta desse conhecimento”, explicou Joselma à turma de coordenadores e diretores.
 
Segundo Joselma, que também é coordenadora pedagógica, por conta da distância entre professor e estudante causada pela pandemia, as intervenções são mais difíceis e a formação do coordenador segue como uma forma eficaz de colaborar na “garantia do sistema de ensino para, posteriormente, garantir também o sistema de avaliação''.
 
As práticas apresentadas na reunião foram compartilhadas por duas duplas de coordenadoras e coordenadores pedagógicos e gestores escolares de Seabra. Uma delas trabalha no Colégio Estadual Professora Ivanda Miranda de Souza. Por lá, a coordenadora pedagógica Jaqueline Reis de Andrade usa a avaliação como princípio de formação. Na escola, não se faz “avaliação de aprendizagem, mas avaliação para aprendizagem”, conta.
 
Um dos instrumentos adotados é o ‘parecer descritivo das aprendizagens’. Ele é escrito por professores e professoras “padrinhos ou madrinhas” de cada turma, que avaliam, aluno por aluno, a assiduidade, relacionamento, dificuldades, além de considerarem as auto-avaliações dos estudantes. Após o parecer, realizam um pré-conselho, com a participação dos professores, coordenação, gestão, representante de turma e pais. Quinze dias depois, é realizado o conselho escolar, de onde sai um plano de ações. Da segunda unidade em diante, realizam um quadro comparativo e focam nos estudantes que requerem mais atenção - aqueles que não participam ou apresentam notas abaixo do esperado.
 
Jaqueline e Cerise
Na mesma escola, um outro método de avaliação que chama atenção é o da professora Cerise Teles, que há mais de 20 anos dá aulas de língua portuguesa e produção textual.  A professora não realiza provas. A nota dos alunos é composta por atividades diversificadas que incluem até uma autoavaliação. Jaqueline conta que a professora pontua também aspectos como interação e frequência, o que tem garantido assiduidade e participação nas suas aulas.
 
Além de todas essas práticas, os roteiros realizados pelos professores para orientar os estudos dos meninos e meninas são quase uma aula em si. “Pense que este aluno não tem nada, só o seu roteiro para aprender”, Jaqueline costuma dizer aos professores que coordena. Ela conta que tudo isso tem influência da formação continuada: “É muito importante esse caráter dialógico em que estamos nos formando. De educador para educador”.
 
Outra experiência, a da Escola Municipal Alvina Rocha, também apresentou inovações. A unidade realiza, em parceria com a equipe técnica, um diagnóstico trimestral baseado nas competências e habilidades dos descritores de leitura e produção textual. Isaías Rodrigues, coordenador pedagógico da escola, conta que o diagnóstico “é um balizador para verificar aprendizagens, uma avaliação formativa para ajudar até mesmo os profissionais no que e como trabalhar os conteúdos com os estudantes”.
 
A partir dos resultados, eles focam nos descritores que precisam de atenção, sem perder de vista os que já trazem avanços. “O trabalho tem que ser contínuo”, diz Isaías. Os resultados dos diagnósticos orientam o trabalho com as sequências didáticas, interferindo no currículo. Isaías percebe que os esforços estão na direção certa quando recebe os resultados acadêmicos. "São fiéis aos resultados dos diagnósticos". 
 
Não basta avaliar os estudantes, mas os processos
 
No Colégio Estadual Carlos Souto, em Rio de Contas, o foco também é nas avaliações de percurso e avaliações formativas. A coordenadora pedagógica Cláudia Brasília conta que a escola está adotando instrumentos como as rubricas, mapas mentais, formulários do Google, seminários, relatórios e portfólios. 
 
Luciana Cardoso, diretora da escola, diz que foi preciso inovar para se adaptar à realidade do momento. "A gente tenta fazer tudo da forma mais justa e honesta possível, nos valendo de todas as tecnologias que estão disponíveis,  sem perder o foco no ensino e na aprendizagem. Esse novo de agora já poderia estar sendo aplicado nas escolas há muito tempo. Nós estávamos defasados em relação as tecnologias". 
 
Além do monitoramento individualizado das aprendizagens dos estudantes, todo o processo de ensino também está sendo avaliado todo o tempo, numa via de mão dupla. "Mantemos contato constante com as famílias, por meio de reuniões virtuais, para que entendam a necessidade dessa parceria com a escola. E a gente avalia todo o processo que nós estamos desenvolvendo a todo momento, para buscar novas formas e metodologias para atingir os alunos e as famílias", conta Luciana. 
 
Cláudia e Luciana participam da formação continuada do IAT desde o ano passado. Luciana diz que os encontros formativos têm sido de muito aprendizado, especialmente nesse contexto de ensino a distância. "Agora mais do que nunca, somos forçados a aprender. Lembro que anteriormente, nós já tínhamos formações que falavam sobre a questão das tecnologias, mas pouco se aplicava. Havia uma resistência. Agora não tem mais pra onde correr. Estamos diante de uma nova forma de educar, ensinar, avaliar. Quando retornamos ao presencial, a escola não será mais a mesma. Nós não podemos voltar ao que era antes".
 
Formação Continuada
 
O Plano de Formação Continuada Territorial é realizado pelo Instituto Anísio Teixeira (IAT) e direcionado a gestores escolares e coordenadores pedagógicos das redes municipais e estadual, além das equipes técnicas das secretarias municipais de Educação e dos Núcleos Territoriais de Educação (NTEs). A ação, que conta com o apoio da União dos Municípios da Bahia (UPB), da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME) e parceria do Itaú Social, tem foco nos profissionais que atuam nos períodos do 6º ao 9º ano e no Ensino Médio. Por conta da pandemia do Coronavírus, a formação acontece em ambiente virtual, reunindo educadores e técnicos dos 27 Territórios de Identidade da Bahia.

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